Londres, 30/09/21 – O Laboratório Global de Inovação em Finanças Climáticas (Global Innovation Lab for Climate Finance – o Lab) lança hoje seis soluções financeiras inovadoras para direcionar recursos privados para ações climáticas em economias em desenvolvimento. O anúncio inclui dois instrumentos no Brasil que pretendem destravar na fase inicial US$ 103 milhões (aproximadamente R$ 600 milhões) em investimentos ESG: o Guarantee Fund for Biogas (GFB), primeiro fundo de garantia ambiental do País e primeiro destinado para financiar projetos de biogás, proposto pela Associação Brasileira de Biogás (Abiogás) e o Amazônia Sustainable Supply Chains Mechanism (AMSSC), fundo de crédito para fornecedores de insumos com práticas sustentáveis na Amazônia, proposto por Natura e Mauá Capital.

O GFB foi desenvolvido como um fundo de renda fixa fechado, de 10 anos, que irá investir até 100% dos recursos em títulos públicos, usando suas cotas como garantia para projetos de Biogás em linhas de crédito de bancos públicos ou privados. O instrumento prevê ainda uma taxa dos desenvolvedores dos projetos que será sua única fonte de remuneração, garantindo retorno no longo prazo para investidores com risco de crédito soberano.

A fase piloto do fundo prevê uma captação de US$ 53 milhões (~R$ 280 milhões) capaz de destravar inicialmente US$ 67 milhões em empréstimos para projetos de Biogás, com potencial de chegar até US$ 258 milhões na liberação de recursos ao fim do prazo de 10 anos. O piloto beneficiará 43 projetos e estima um impacto de neutralização de 331 mil toneladas em emissões de gases por ano na próxima década. As garantias por cada projeto irão variar entre US$ 530 mil até US$ 6 milhões, com limite de 10% do orçamento de cada.

“O Brasil tem o maior potencial do mundo para o biogás. No entanto, devido à falta de conhecimento sobre os aspectos financeiros dos projetos de biogás, a percepção de risco por parte dos bancos e instituições financeiras é muito alta. A experiência do Lab nos ajuda a lançar um produto financeiro atraente e viável”, afirma Alessandro Gardemann, presidente da Abiogás.

Já o Amazônia Sustainable Supply Chains Mechanism (AMSSC) é uma solução focada em agricultura sustentável e uso de terra que combina dois componentes: o primeiro é um fundo de antecipação de recebíveis para prover acesso à crédito para cooperativas e pequenos produtores na Floresta Amazônica com práticas sustentáveis. O segundo componente é um mecanismo de facilitação (Enabling Conditions Facility – ECF)que prevê dar apoio técnico para fornecedores melhorarem a qualidade e capacidade de produção com práticas sustentáveis em conjunto com iniciativas sociais de impacto na comunidade como educação empreendedora, saúde comunitária, acesso à internet e infraestrutura.

Nessa estrutura, investidores podem participar de forma filantrópica, financiando o mecanismo de facilitação ou com retorno em cotas subordinadas do fundo de antecipação de recebíveis, que partem da Natura como tomador inicial.

O fundo do AMSSC prevê levantar na fase piloto US$ 50 milhões (R$ 265 milhões) que financiarão 34 cooperativas na região da Amazônia. Esses fornecedores são responsáveis atualmente pelo abastecimento de 39 bioingredientes distribuídos em 85 cadeias da sociobiodiversidade usados pela Natura para a produção de seus cosméticos. Sob o aspecto ambiental, o objetivo é que o piloto possa reduzir o impacto do desmatamento e manter 3 milhões de hectares de floresta conservada na Amazônia até 2030, evitando um potencial de 1,4 bilhão de toneladas de emissões de CO2.

A estimativa é que o mecanismo beneficie mais de 10 mil famílias na região. A ideia é que outras indústrias que possuem fornecedores da região possam aderir ao mecanismo futuramente, ampliando o poder multiplicador da solução.

“Soluções como a do Mecanismo de Financiamento para Iniciativas na Amazônia têm o potencial de escalar e fortalecer cadeias de bioeconomia por canalizar recursos para projetos estruturantes em comunidades agroextrativistas, viabilizando novas oportunidades de negócios”, afirma Denise Hills, diretora de sustentabilidade de Natura &Co para América Latina. “Desta forma, temos a oportunidade de aumentar a resiliência das cadeias compatíveis com a floresta, acelerando seu desenvolvimento socioeconômico, assim como a conservação e regeneração do bioma”, pontua.

“O Lab foi um parceiro crucial para refinar e testar nossa solução proposta, para lançarmos um mecanismo de financiamento robusto, replicável e escalonável para desenvolver cadeias de suprimentos resilientes e sustentáveis na Amazônia e outras regiões semelhantes”, aponta Carolina da Costa, sócia da Mauá Capital.

Após um processo completo de análise, desenvolvimento e teste de estresse, essas soluções estão prontas para fornecer oportunidades de investimento em direção a uma economia zero carbono. Os instrumentos deste ano serão apresentados para potenciais investidores, financiadores e parceiros no “Demo Day” evento virtual no dia 20 de outubro.

“Esses instrumentos inovadores mostram que existem muitas soluções prontas para o investidor para enfrentar a crise climática. Por meio do portfólio do Lab e além, precisamos que os investidores abracem essas ambiciosas oportunidades de impacto climático e as levem ao mercado,” diz Barbara Buchner, diretora global do Climate Policy Initiative, que gerencia o Lab.

Criado em 2014, o Lab, uma iniciativa de mais de 70 investidores e instituições públicas e privada, é uma aceleradora de soluções de investimentos para apoiar o desenvolvimento sustentável em mercados emergentes. Globalmente, já lançou 55 instrumentos, comemorando esse ano a marca de mais de US$ 2,5 bilhões em recursos mobilizados para ações climáticas em economias em desenvolvimento. O Brasil tem sido um país estratégico para iniciativas no segmento. Ao todo, foram 10 instrumentos lançados no Brasil desde a criação do programa brasileiro, em 2016.

Os demais instrumentos lançados globalmente em 2021 podem ser conferidos também no site: https://www.climatefinancelab.org/news/lab-endorsement-2021/

Sobre o Lab

O Global Innovation Lab for Climate Finance identifica, desenvolve e lança instrumentos financeiros inovadores que podem direcionar bilhões em investimentos privados para ações sobre mudança climática e desenvolvimento sustentável. O Lab é financiado pelos governos da Alemanha, Holanda, Suécia e Reino Unido, além da Fundação Rockefeller. A gestão é do Climate Policy Initiative.